terça-feira, 10 de junho de 2014

Existência e Ser!

De um modo geral ficamos amuados com esse negócio do tempo; porque o tempo passa, ou melhor, nos passamos pelo tempo! Sem dúvida, este fato nos deixa amuado; deveras!

Talvez seja por essa razão que nos maquiamos. Pinta-se o cabelo; pinta-se a barba; pinta-se aqui e acolá. Pintamos e bordamos! É uma forma de se driblar esse negócio de velhice, terceira idade, melhor idade e um montão de outras tergiversações que nos empurram.

Quando as reflexões exageram, e começamos a nos angustiar, então partimos para o ataque; tudo que não conseguimos fazer e tudo que hoje não é mais como dantes deixa-se de lado e apostamos na netinha, ou no netinho. Queremos que eles façam tudo que não conseguimos fazer ou que não mais podemos fazer. Então, é netinha dançando funk, samba, axé; é bundinha pra lá e pra cá. É desfile de moda, é desfile de miss, é batom na boca, vermelhão, e pintura nos cílios, pretão. Um borrão que dá dó!

Mas não adianta, o travesseiro é infernal!

Mas não desistimos, afinal tem o Facebook!

Essa grande sacada da modernidade nos rejuvenesceu; mas só na internet!

Mesmo assim, enganado e enganando-se postamos fotos e mais fotos de um tempo que não mais existe. Mas, a juventude estampada em cada foto alimenta o ego por alguns instantes. Mais postagens e retroalimentamos a insaciabilidade de se manter outro frente ao momento de agora. Queremos ser outro, queremos ser o que já fomos, queremos o viço da juventude perdida, e perdemos para o tempo; pois ele é inexorável e continua, a cada instante, nos distanciando daquilo que se busca através da ilusão de uma foto, de uma máscara, de um bordado no rosto.

A maquiagem existencial é impossível! Então, possuídos de saudades de nós mesmos, olhamos aquela abstrata imagem de uma caminhada no mundo que não mais existe e, percebemos “an passant”, que a vida é efêmera e o feito passado foi perdido na imensidão do tempo.

E o que mais esquecemos?

Esquecemo-nos de nós mesmos, de nós hoje, de nós agora!

Esquecemo-nos de viver o instante; de viver o presente; de mostrar “minha cara” e desnudar "minh’alma" como ela é. As máscaras e as fotografias são simples borrões de um tempo que não mais me pertence e eu, sou somente no agora.

É preciso Ser no mundo e não mais, simplesmente, estar no mundo. A beleza fundamental esta dentro de cada um de nós; a verdadeira imagem nunca se apaga e brilha no fundo de cada ser humano.

Vamos postar as fotos de agora; das rugas da vida, dos cabelos brancos que a neve existencial tingiu para nos fazer maravilhosos; vamos mostrar a viscosidade da vida e a excelência plantada dentro de cada alma.

Vamos nos mostrar, sim, quem quiser se mostrar; mas mostrar a si como Ser e não mais como uma mera fotografia do passado em que o viço da vida esta escondido pelo amarelado do papel ou borrado de tinta, sujo da imperfeição química que nos mascara escondendo-nos de nos mesmos.

Amordace o ego da futilidade e solte as amarras do Ser, liberando-se para a vida!


Et vita vestra Morbi fluentia!