De um modo geral ficamos amuados
com esse negócio do tempo; porque o tempo passa, ou melhor, nos passamos pelo
tempo! Sem dúvida, este fato nos deixa amuado; deveras!
Talvez seja por essa razão que
nos maquiamos. Pinta-se o cabelo; pinta-se a barba; pinta-se aqui e acolá.
Pintamos e bordamos! É uma forma de se driblar esse negócio de velhice,
terceira idade, melhor idade e um montão de outras tergiversações que nos
empurram.
Quando as reflexões exageram, e
começamos a nos angustiar, então partimos para o ataque; tudo que não
conseguimos fazer e tudo que hoje não é mais como dantes deixa-se de lado e
apostamos na netinha, ou no netinho. Queremos que eles façam tudo que não
conseguimos fazer ou que não mais podemos fazer. Então, é netinha dançando
funk, samba, axé; é bundinha pra lá e pra cá. É desfile de moda, é desfile de
miss, é batom na boca, vermelhão, e pintura nos cílios, pretão. Um borrão que
dá dó!
Mas não adianta, o travesseiro é
infernal!
Mas não desistimos, afinal tem o
Facebook!
Essa grande sacada da modernidade
nos rejuvenesceu; mas só na internet!
Mesmo assim, enganado e
enganando-se postamos fotos e mais fotos de um tempo que não mais existe. Mas,
a juventude estampada em cada foto alimenta o ego por alguns instantes. Mais
postagens e retroalimentamos a insaciabilidade de se manter outro frente ao
momento de agora. Queremos ser outro, queremos ser o que já fomos, queremos o
viço da juventude perdida, e perdemos para o tempo; pois ele é inexorável e
continua, a cada instante, nos distanciando daquilo que se busca através da
ilusão de uma foto, de uma máscara, de um bordado no rosto.
A maquiagem existencial é
impossível! Então, possuídos de saudades de nós mesmos, olhamos aquela abstrata
imagem de uma caminhada no mundo que não mais existe e, percebemos “an passant”, que a vida é efêmera e o
feito passado foi perdido na imensidão do tempo.
E o que mais esquecemos?
Esquecemo-nos de nós mesmos, de
nós hoje, de nós agora!
Esquecemo-nos de viver o
instante; de viver o presente; de mostrar “minha cara” e desnudar "minh’alma" como ela é. As máscaras e as fotografias são simples borrões de um tempo que
não mais me pertence e eu, sou somente no agora.
É preciso Ser no mundo e não
mais, simplesmente, estar no mundo. A beleza fundamental esta dentro de cada um
de nós; a verdadeira imagem nunca se apaga e brilha no fundo de cada ser
humano.
Vamos postar as fotos de agora;
das rugas da vida, dos cabelos brancos que a neve existencial tingiu para nos
fazer maravilhosos; vamos mostrar a viscosidade da vida e a excelência plantada
dentro de cada alma.
Vamos nos mostrar, sim, quem
quiser se mostrar; mas mostrar a si como Ser e não mais como uma mera
fotografia do passado em que o viço da vida esta escondido pelo amarelado do
papel ou borrado de tinta, sujo da imperfeição química que nos mascara
escondendo-nos de nos mesmos.
Amordace o ego da futilidade e
solte as amarras do Ser, liberando-se para a vida!
Et vita vestra Morbi fluentia!
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