Falar em ditadura e em conceito reserva
a quem escreve o ônus da objetividade e da imparcialidade; coisa bastante
difícil no caso deste artigo, onde me proponho a escrever justamente sobre uma
questão subjetiva, a beleza; e seus conceitos, que também são subjetivos.
O conceito de magra e gorda é
objetivo, qualquer um sabe quanto pesa, basta acessar uma balança. Entretanto 50
quilos na balança não significa beleza, é apenas o peso da massa corporal. Seu
corpo pode ser belíssimo, mesmo com 70 ou 80 quilos; por que deveria pesar
menos para ser belo?
Caminhando distraidamente pelos
centros da moda de São Paulo deparei-me, na tarde de ontem, com a manchete
estampada em uma capa de revista: “Linda e magra”! A modelo realmente é bonita,
tem coisas que é impossível negar; que seu conteúdo corporal não tinha recheios
adequados a necessidade de compor uma estrutura sustentada por ossos, num
equilíbrio que só a existência explica, também não tinha qualquer sombra de
dúvidas. Mas, minha atenção foi ao mesmo tempo despertada pelo olhar e pela
maldita palavra que os filósofos colocam no início da fila das suas indagações:
“Por quê?”.
Por que linda e magra?
De que neurônio saiu à ideia de
que para ser linda tem que ser magra?
Respirei fundo e deixei a
indignação de lado; acalmei meus pensamentos e, imediatamente, peguei a caneta
para escrever o título que esta ostentando este artigo: “Ditadura do Conceito”.
Sim, porque é uma ditadura impor conceitos de beleza quando a própria beleza é
um conceito e como conceito é subjetivo. Por que uma pessoa tem que ser magra
para ser bela?
São esses conceitos que criam e multiplicam
estereótipos bizarros, impostos à população como regra, através dos meios de
comunicação e da mídia bem torneada. É também aformoseada por um bando efusivo
de marqueteiros plantonistas que moldam o nada para que se torne alguma coisa.
É vero! Um nada se torna alguma
coisa pelas mãos hábeis de quem conhece as fraquezas humanas.
Essa fraqueza é que torna uma
maioria refém de uma minoria; acreditar num conceito imposto e deixar isso
alastrar-se em sua vida é viver sob a égide de uma ditadura conceitual que
servirá apenas para escravizar àqueles que nem timidamente se dão ao trabalho
de exigir da razão uma resposta às ditaduras que lhes sufocam.
Linda e magra!
Por que não linda e gorda?

Na verdade não é o peso que torna
um corpo belo ou não; é o conceito de belo, imposto por uma ditadura conceitual
que lhes empurram goela abaixo a ficção criada a partir de interesses
comerciais associados a padrões criados por meia dúzia de espertalhões da moda.
O belo é subjetivo, assim como o
feio. Dizer que a beleza esta associada aos conceitos e padrões criados através
de uma ditadura da moda é querer tornar o ser humano escravo do conceito.
Todo ser humano é belo, assim
como belos são os animais e toda a natureza. A beleza, mesmo que seja um conceito
subjetivo, é expressa através da sua manifestação objetiva. Belo é aquilo que
meus olhos se alegram em ver. E eu me alegro em ver um ser humano se
manifestando existencialmente; eu me alegro em ver um animal como resultado da
criação existencial; eu me alegro em poder olhar toda a natureza que me recebe
em seus braços.
A beleza é mais espiritual do que
corporal; o corpo apenas manifesta o interior e sua grandeza esta em
possibilitar essa manifestação.
Se fosse para discutir
subjetividades e padrões de beleza corporal, embora isso seja insignificante
quando se tem a frente de si um ser humano, eu diria que existe beleza também nas
pessoas que são taxadas de gordas pela ditadura do conceito.
Nulla ratione melius vivet!
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