Um artista que caminhava em
direção ao microfone empurrado pela estrutura que faz do homem escravo,
marionete, joguete de um poder abstrato que nos suga, absorve, consome nosso
sangue até a última gota e quando nada mais resta espreme até que saia o
suspiro da morte.
Assim foi a existência de Amy
Winehouse, talvez como tantos mais, que são sustentados com vida, apesar de
suas almas estarem mortas.
O olhar no vazio demonstrava sua
fuga do presente, da realidade que a envolvia, que a dominava e que dela tirava
o sangue para deleite de muitos que a rodeavam ou daqueles que a adoravam sem
saber que sua presença e seu talento eram fantasmas que se punham de pé
amparados pelo establishment que a
tudo controla, que a todos conduz ao inferno de ostentações e ilusões.
Amy nunca esteve presente em suas
apresentações; seu olhar no vazio denunciava medo, fragilidade, tristeza, dor,
angústia; as mãos crispadas como querendo proteger-se de um monstro
invisível que sempre a assediou e que a levou à miséria humana.
A plateia sorria quando ela
ensaiava uma frase que parecia engraçada; gargalhavam com a ignorância de
olharem sem ver, sem nada vislumbrarem da essência; via-se de Amy somente a
frágil existência, que se agarrava ao nada, ao vazio, ao fantasioso circo de
ilusões com palhaços e equilibristas existenciais. Seu grande talento viveu em
um corpo apático por uma alma sofrida; doentia e dependente.
Nunca fui fã de Amy, nunca
escutei suas canções como um entusiasta, tampouco como um devoto; não posso
dizer que fui seu admirador, como também não posso de forma alguma contestar
seu talento. Eu a via como uma grande artista, fato inegável; mas suas canções
não estavam entre as minhas preferidas. Entretanto, quando observava seu rosto
sofrido, tentando como um autômato gerar alegria e deleite para outros, me
compadecia da sua dor escondida. Amy Winehouse nunca esteve inteira em um
palco; sua alma não estava presente e seu corpo denotava vontade de fugir do
mundo.
A compaixão é um sentimento que
pode gerar no outro mais tristeza do que conforto e àquela artista, pelo seu
talento, e por suas decisão em ser o que foi, não merece que se tenha pena
pelos atos que decidiu tomar durante sua vida e pelos que a vida lhe reservou,
pois a decisão de ser ou de estar no mundo é de cada um de nós, humanos, mas
escrever sobre o que se observou de um artista cujo talento musicista vai
integrar a história, pode ser um tributo àquela alma que esteve na existência
humana tão distante do seu corpo.
À Amy Winehouse!
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