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Quase todas as pessoas gostam de
ouvir músicas; eu também gosto, particularmente The Beatles e as canções dos
anos 60. Mas é tão bom repassar, através da música, pelo tempo de outrora,
ouvindo também as canções dos anos 20, 40, 50, passeando por um tempo que não
foi o nosso, que não experimentamos factualmente.
Essas viagens pelo tempo, ocasionalmente
ou para alguns frequentemente, uma vez que a música é uma forma de transportar
o pensamento à distâncias inimagináveis, faz cada um de nós viajar pela distância
que sua mente lhe beneficiar, lhe proporcionar e ousar.
Pois, assim, nessas viagens, que
também sou acostumado a fazer, o passado nos mostra um tempo não vivido por nós
e ao mesmo tempo apresenta-nos a realidade de um tempo vivido e passado; uma
realidade morta!
Àquela realidade vivida não mais
existe; nossas mentes fazem com que possamos refletir sobre o que foi feito; e
o que foi, morreu!
Nosso hoje permite-nos olhar à
frente, a possibilidade de um futuro inexistente, ainda por se fazer,
fatalmente morto no agora. Permite-nos também olhar o que passou, "vendo" o
expressado, o que existiu e que nunca mais existirá; o que está morto!
Por que, então, ter medo da
morte?
Convivemos com a morte em cada
pensamento; o próprio pensamento morre a cada momento que se expressa.
O pensamento se expressa e se
esvai, em todo o instante pensado.
Enquanto não atingirmos a idade
da razão não pensaremos sobre o morrer; parece-nos coisa muito distante, tão
distante que não queremos perder tempo em pensar sobre tal acontecimento.
Mas em que momento atingimos a idade
da razão?
Certamente não irei voltar ao
romance sartreano “L'âge de raison”, pois o filósofo reflete em tais momentos
muito mais sobre a liberdade do que sobre a racionalidade nessa ou naquela
idade e tal romance faz parte da sua trilogia “Les Chemins de la liberte”;
portanto não será Sartre à nos ajudar nesta reflexão; bem ao contrário, o
filósofo nos colocaria muito mais fundo nesse poço existencial e para àqueles
não acostumados com a filosofia resultaria em noites e noites de angustia e
perda de sono, e de tempo, e de vida; a morte sempre espreitando...
Mas, e a idade da razão? 30 anos?
40 ou 50? Quem sabe 60 ou 70? Ou nunca!
A razão é uma capacidade do ser
humano que através da mente consegue chegar à conclusões das suas premissas,
que podem ter sido pensadas apenas como suposições. É uma forma de propor
explicações racionais para a causa e o efeito de tudo que nos rodeia. O homem
estará apto a concluir que chegou a sua idade da razão no momento em que
conseguir refletir sobre sua existência no mundo e definitivamente saber o que
faz no mundo; quem sabe voltando à uma pergunta que ainda está no ar: O que
faço no mundo?
Cada ser humano sabe quando
atinge a sua idade da razão, quando consegue refletir sobre si mesmo; quando
sua mente avisa-lhe que chegou o momento de sair do sonho ingênuo e das
fantasias que nos foram contadas; quando olha o mundo e se vê no mundo,
fazendo, construindo o mundo e, ao mesmo tempo, se fazendo no mundo. Quando
consegue olhar-se, não sozinho neste vazio existencial, mas como parte
integrante de uma existência harmônica e incrivelmente perfeita. Quando sua
reflexão mostra-lhe que é um nada e um tudo nessa existência perfeita; quando
vê sua impossibilidade e sua grandeza; quando desperta para dentro de si mesmo
e descobre no fundo do próprio ser o Céu e o Inferno e, nessa dualidade,
impossível de ser desfeita, consegue amordaçar o inferno para abrir um caminho
livre para sua existência factual e sua existência metafísica. O homem é um ser
dual e, portanto, é também um ser concreto que busca alcançar o Tu Absoluto.
Será que ainda teremos medo de
refletir sobre o óbvio?
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