sexta-feira, 20 de maio de 2016

ATÉ QUANDO?

Deparei-me hoje com uma cena já normal nas grandes capitais: A sarjeta e o caos onde habitam humanos sem rumo, sem norte, à margem do que se convencionou chamar de sociedade; vítimas de si mesmo; entregues à ruína da exaustão existencial; presos à ilusão de drogas e à necessidade da compaixão do outro. À beira do abismo!

Fiquei a pensar...

O que leva o indivíduo a desgostar de si; a entregar-se ao nada; a debruçar-se sobre a lama e a imundície desse lodo desumano que lhes esfacela o corpo, inutiliza sua alma e o desliga do seu próprio Ser, desalojando-o do seu espírito?

Por que essa alienação da vida; o corte do ínfimo fio que o ligaria a uma história comum de todos os humanos; à opção insana pelo mais profundo e escuro oceano do vazio existencial?

Se nem mesmo esses humanos que vagam pela escuridão da vida se revelam a si, certamente que mudos estarão a qualquer desses questionamentos.

Mas a existência não é muda; a filosofia não é muda; a razão não é muda; a reflexão não é muda; o mundo não é mudo e a sociedade não deveria ser muda, embora se cale!

Não há desculpa para o culpado e o júri um dia aplicará uma sentença, pois a Lei deve ser cumprida, aqui e acolá.

E qual a Lei que irá punir àquele, àquela, e todos os culpados pelos zumbis que se acotovelam, se esbarram entre si e entre outros, na escuridão de uma existência insana que lhes foi imposta por um determinismo que não escolheu?

Quando nos deparamos com a miséria insana de corpos que se vendem, que se alugam e que se dão, uns aos outros, na podridão da alienação por fraqueza, ou por insanidade, escondendo-se numa tragada de crack ou qualquer outra ilusão que lhes satisfaça o nada existencial, perguntamos se não haverá dentre todos nós responsáveis pelo caos que se instalou numa sociedade que se quer humana?

A cada passo dado, um aqui e outro acolá, as vidas se instalam em ventres diversos e o mundo é alimentado segundo a segundo com seres humanos que ao acaso habitam e desabitam um plano existencial. Os olhos da sociedade ficam cegos a esse vai-e-vem e na imensidão do tempo, que nos contempla, transitamos pela existência como se dela e nela somente o acaso fosse a razão. Não nos perguntamos por que um ventre viciado, alienado e jogado na sarjeta das drogas e do mundo é habitado por outro Ser que o mesmo caminho seguirá. Somos solidários com a miséria humana e ainda temos desculpas religiosas para o submundo social que à margem, e marginalizado, sustenta o “status quo” dessa “divina comédia”.

É de se perguntar: Por que e para que filhos do submundo?

Para que espíritos aqui venham cumprir sua missão; mesmo que seja a de viver como zumbis?

Não mais me serve essa teologia da necessidade espiritual; o que está a me parecer como desculpa para excluir-se da responsabilidade de um mundo insano.

É por isso que fica dificílimo ser um existencialista e ao mesmo tempo um Cristão. É preciso ter muita fé para ser existencialista e olhar profundamente para esse mundo que aí está, e que nele estamos, e apenas contempla-lo, deixando seguir seu curso como se nada fosse de nossa responsabilidade, a não ser, eximir-se da culpa.

Vamos ao processo de alteridade: Eu não queria ser como esse outro, mas colocando-me no lugar desse outro, vejo-me inerte para gritar por socorro, embora esteja com a mão estendida para que me tirem dessa lama.

Até quando?

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