quarta-feira, 20 de julho de 2011

EU TE AMO

Talvez seja essa pequena frase a mais popular pronunciada pelos seres humanos. Também, a mais ingênua; desprovida de objetividade, racionalidade e imparcialidade.

Eu te amo significaria, antes de se pronunciar a frase, certamente dirigida a alguém, saber-se o que é o amor (?).

Quando se confidencia a alguém “eu te amo” devemos estar ciente sobre o que me move a esse suposto amor que penso ter. Antes de tudo, estar ciente de que “eu te amo” é desprovido de egoísmo, de satisfação e de prazer subjetivo, posse, poder e propriedade.

Amar é ter desejo, sim; é proteger, também; mas amar, antes de tudo, é deixar o outro Ser.

Ser significa construir meu próprio EU e isso inclui a liberdade de ME expressar, transitar e conviver com o mundo; mundo esse que não é o mundo de nós dois, mas o meu mundo e o teu mundo; o meu mundo e o mundo dos outros. Assim, eu escolho “Ser no mundo” e não somente “estar no mundo”.

Essa comunicação livre e sem amarras é que possibilitará, a cada Ser, a construção do seu EU, que é subjetivo; faz parte do indivíduo; do uno existencial.

O Outro não é nossa propriedade e por isso necessitará da liberdade para transitar no mundo tanto quanto cada um de nós. Ser livre significa ser “dono do seu próprio nariz”; estar ciente de que atrás de si não existe um sensor para dizer o que está certo e o que está errado, pois o certo e o errado também são coisas subjetivas.

Querer o Outro como a uma propriedade é transformar o Ser humano em coisa, objeto, mercadoria; o Outro não é nossa propriedade e por isso eu não o tenho. Não é minha posse; não é minha coisa; não é meu!

As expressões “meu” amor; “minha” amada; “minha” mulher; “meu” marido; meu isso e meu aquilo são as mais erradas do vocabulário humano, porque aquilo que é meu não É.

Minha propriedade; minha biblioteca; meu carro; meu dinheiro são coisas e coisas são desprovidas de SER, portanto, não são no mundo; apenas estão no mundo.

Para SER é necessário não ser, pois o SER não é objeto; não é coisa; não é matéria. O SER é espírito, alma, composição física também, mas impregnado de injunções metafísicas. O SER é essência e existência.

O amor é incondicional, não exige troca, não pede recíproca; amor é dádiva, doação, gratuidade. Amar é constituir-se como o outro para compreender sua essência e deixar livre sua existência.

Essa alteridade pressupõe que o Amor seja o projeto de realizar a assimilação entre o Eu e o Outro. Mas para que o outro possa considerar-me assim é preciso que ele possa querer, isto é, ser livre; por isso, a posse física, a posse do outro como coisa, é no Amor, insuficiente e decepcionante. É preciso que o outro seja livre para querer amar-me e para ver em mim o infinito.

Dizer “eu te amo” sem entender essa alteridade é confundir amor com paixão. A paixão é transitória e temporal; o amor é perene e atemporal.

“Eu te amo” não se consubstancia caso houver a necessidade da pergunta “tu me amas” (?) porque “eu te amo” não exige condição.

6 comentários:

Anônimo disse...

Seu texto é maravilhoso...concordo lieralmente...

Feliz dia pra vc tb!!!!

meu carinho...


Zil

Aline Goulart disse...

Essa linda frase só deveria ser usada quando realmente o sentimento amor existe. Só que o amor não é só demonstrado por essa frase, sim através das atitudes. Claro que concordo com uma coisa: é bom de ouvir. Mas ainda prefiro sentir. Beijinhos.

Néia Lambert disse...

Prof. essa frase "eu te amo", ultimamente tão banalizada, tem mesmo esse sentido todo que, de forma consciente, foi colocado no seu texto.

Um abraço

MA FERREIRA disse...

Caro Prof.

Entrei no seu blog por acaso. Li seu texto atentamente.
Fiquei encantada.
Quem sou eu para analisar um texto?
Mas te digo com toda a sinceridade, posso dizer como o texto chegou a mim.
Chegou de maneira clara e me levou a reflexao.
De que muito do que se diz por ai, 'e tudo, menos amor.
Amor 'e desapego. 'e incondicional.
Amor nao 'e condicao.
Amor e estado de graca.
Mas enfim.. vc ja disse tao lindamente e claramente o que 'e o amor.
Desculpe-me pela falta de acento grafico e cidilha no meu comentario Estou no note da minha filha e confesso nao sei como coloca-lo.

Faco arte ceramica em Sao Paulo. Meu blog 'e relacionado a arte.

Te convido para conhece-lo, se o tema lhe agradar.
Sera uma honra recebe-lo.

Um abraco, com carinho,

Ma Ferreira

♪ Sil disse...

Eu te amo, virou bom dia!

Como essa frase se banalizou!

Belo texto Ira!

Beijão

Astrid Annabelle disse...

Adorei ler este seu texto!
Um beijo
Astrid Annabelle