O que é isso que eu sinto pelo
outro; é amor ou paixão?
Alguns dicionários apontam: “Amor
é uma atração baseada no desejo sexual.” Nada mais absurdo do que uma afirmação
dessas. O Amor não tem como base o desejo, que é uma forma de obter prazer pelo
uso do outro e pelo retorno que tal uso lhes dá. Não significa que quem ama não
tenha desejo sexual ou que não tenha relação sexual; havendo tal entendimento,
estará totalmente errado. Quem ama tem, sim, pelo outro, “desejo” sexual, só
que este “desejo” não é usurpador e sim um desejo de doação, de dar ao outro
àquilo que lhe faz feliz, que lhe dá prazer, que cria emoção; é um desejo de
dar primeiramente, de se doar sem esperar nada em troca, sem querer que o outro
tenha a obrigação de satisfazê-lo; embora possa haver a reciprocidade e o
prazer dual.
Mas isso é apenas um aspecto
humano, da existência do homem. O Amor tem uma outra dimensão que soma a todas
as dimensões existenciais; o Amor é metafísico; a dimensão espiritual, presente
na dualidade humana, está presente com intensidade muito maior do que a
dimensão carnal. Amar, portanto, não é uma atração baseada no desejo, seja
sexual ou qualquer outro; ao contrário, não existe desejo no sentido de
subtrair do outro e sim o desejo de que seja somado ao outro o que de melhor se
possa somar.
Também apontam, outros dicionários,
que o amor seria aquele onde duas pessoas se amam. Nada mais risível pela
própria definição. Muito mais risível é aquele que aponta que “existem vários
tipos de amor”; entretanto de todos os tipos que relatam nenhum é Amor.
“Amor é olhar nos olhos do outro
com ternura e desejo”, diz um autor; essa definição por si só se exclui, pois
desejo anula a ternura e vice-versa.
São mais de seis milhões de
definições propostas pelos dicionaristas do Senso Comum sobre a palavra Amor e
em todas que pesquisei deparei-me com a confusão entre amor e paixão.
Falamos muito em amor, em amar,
em estar apaixonado um pelo outro, mas nada sabemos a respeito do amor e de
paixão; além de confundirmos ambos os sentimentos, não sabemos descrever um e
outro e, quando o fazemos, usamos de forma errada a razão para defini-los. Além
do mais, o amor é raríssimo e se esvai como água por entre os dedos quando o
sentimento não tem base sólida alicerçada na doação, no desinteresse material,
no bem alheio.
50 anos de paixão!
Esqueça, você não ficará
apaixonado pela mesma pessoa durante 50 anos! Não perca seu tempo com tais
ilusões que têm a mesma intensidade das paixões. Hoje você se ilude amanhã se
desilude, a paixão é igual; intensa hoje, morna amanhã, inexistente depois.
Estou falando (escrevendo) entre as mesmas duas pessoas. Hoje apaixonado(a)
perdidamente por uma pessoa; amanhã perdidamente por outra, até seu
amadurecimento racional. A razão irá impedir tais atitudes emocionais
corriqueiras e passageiras.
Case-se por paixão e separe-se,
logo a seguir, por incompatibilidade de gênios!
A paixão é intensa, mas efêmera.
Ninguém ficará apaixonado a vida inteira pela mesma pessoa, repito, mas poderá
amar a mesma pessoa durante toda sua vida.
Amor e Paixão são dois
acontecimentos emocionais totalmente diferentes e, inclusive, incompatíveis;
basta usarmos a razão para compará-los. Amor é doação; paixão é usurpação.
Quem ama doa-se ao outro; o
apaixonado suga o outro.
Haverá impropérios e discussões
histéricas sobre esta tese e, quando houver, tais debatedores estarão deixando
de lado a razão escudando-se na emoção.
A emoção é cor de rosa, linda e
brilhante, mas efêmera; a razão é cinzenta, como um céu de inverno, com chuvas
e trovoadas, mas firme e perene.
E é essa dureza da razão que
determina o “que fazer” para àquele que diz amar; esse “que fazer” é uma
atitude imutável a ser assumida sem esforço algum; ou você ama e doa-se
inteiramente ao outro; ou você não ama. Quem ama quer ver o outro feliz e não
me venham com reciprocidades obrigatórias que isso é coisa da paixão.
O problema maior do amor é amar a
quem não pode dar reciprocidade; em havendo tal evento a infelicidade estará
completa. Não havendo tal evento, os dois completando-se com o mesmo
sentimento, o amor poderá ser perene, desses que são quase inexistentes na
sociedade pragmática em que vivemos.
Quem exclamar: Meu pai e minha
mãe amaram-se a vida inteira! Não conheceu seus pais; a não ser que sejam um
dos tais raríssimos casos.
Quem exclamar eu amarei tal
pessoa a minha vida inteira; desconhece, por óbvio, o futuro.
O Amor acontece e pode ser via de
duas mãos, ou não! No mundo atual quase sempre não o é, e são raríssimas as
exceções; assim como são raríssimos os casos de amor para toda a vida entre
dois seres desconhecidos que se encontram e que se encantam um pelo outro. Claro,
o encanto se dá pelos atributos estéticos e que podem se afirmar pelo
conhecimento do Ser. Se houverem afinidades que contribuam para tal conhecimento,
o que demanda tempo, o evento do Amor poderá se afirmar.
Minha Mãe e meu Pai foram felizes
a vida inteira! Mera observação de filho(a) que vê o Pai e a Mãe com os olhos
cor de rosa.
Eu amo meu marido ou minha mulher!
Meu marido, ou minha mulher, me ama! São afirmações-exclamações sem fundamento,
superficiais e fruto do senso comum, pois amar exige muitíssimo mais do que as
simples afirmações emocionais; exige conhecimento, comprometimento, doação
incondicional, respeito, cuidado, atenção, companheirismo.
Deixemos essas armadilhas da
emoção para o Senso Comum e busquemos a Razão para que nos afirme aquilo que
“É” e que, por óbvio, não pode “Não Ser”.
O Amor foge das observações
estéticas, elas não têm qualquer valor; diferente da Paixão, o Amor tem fulcro
no Ser, em uma relação de sujeito-sujeito e não sujeito-objeto (comum nos dias
atuais, sem que os pares percebam tal discrepância). O Amor não pede; ele dá,
doa. O Amor não escraviza e não é escravo; quem Ama, simplesmente Ama. Nada
pede; nada espera; nada cobra. É um convívio fraterno, caso exista a
reciprocidade. É por isso que Amar é um evento raríssimo no mundo moderno,
pelas armadilhas materiais e pelo egoísmo humano.
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