terça-feira, 22 de maio de 2018

A METAFÍSICA DO AMOR


O que é isso que eu sinto pelo outro; é amor ou paixão?

Alguns dicionários apontam: “Amor é uma atração baseada no desejo sexual.” Nada mais absurdo do que uma afirmação dessas. O Amor não tem como base o desejo, que é uma forma de obter prazer pelo uso do outro e pelo retorno que tal uso lhes dá. Não significa que quem ama não tenha desejo sexual ou que não tenha relação sexual; havendo tal entendimento, estará totalmente errado. Quem ama tem, sim, pelo outro, “desejo” sexual, só que este “desejo” não é usurpador e sim um desejo de doação, de dar ao outro àquilo que lhe faz feliz, que lhe dá prazer, que cria emoção; é um desejo de dar primeiramente, de se doar sem esperar nada em troca, sem querer que o outro tenha a obrigação de satisfazê-lo; embora possa haver a reciprocidade e o prazer dual.

Mas isso é apenas um aspecto humano, da existência do homem. O Amor tem uma outra dimensão que soma a todas as dimensões existenciais; o Amor é metafísico; a dimensão espiritual, presente na dualidade humana, está presente com intensidade muito maior do que a dimensão carnal. Amar, portanto, não é uma atração baseada no desejo, seja sexual ou qualquer outro; ao contrário, não existe desejo no sentido de subtrair do outro e sim o desejo de que seja somado ao outro o que de melhor se possa somar.

Também apontam, outros dicionários, que o amor seria aquele onde duas pessoas se amam. Nada mais risível pela própria definição. Muito mais risível é aquele que aponta que “existem vários tipos de amor”; entretanto de todos os tipos que relatam nenhum é Amor.

“Amor é olhar nos olhos do outro com ternura e desejo”, diz um autor; essa definição por si só se exclui, pois desejo anula a ternura e vice-versa.

São mais de seis milhões de definições propostas pelos dicionaristas do Senso Comum sobre a palavra Amor e em todas que pesquisei deparei-me com a confusão entre amor e paixão.

Falamos muito em amor, em amar, em estar apaixonado um pelo outro, mas nada sabemos a respeito do amor e de paixão; além de confundirmos ambos os sentimentos, não sabemos descrever um e outro e, quando o fazemos, usamos de forma errada a razão para defini-los. Além do mais, o amor é raríssimo e se esvai como água por entre os dedos quando o sentimento não tem base sólida alicerçada na doação, no desinteresse material, no bem alheio.

50 anos de paixão!

Esqueça, você não ficará apaixonado pela mesma pessoa durante 50 anos! Não perca seu tempo com tais ilusões que têm a mesma intensidade das paixões. Hoje você se ilude amanhã se desilude, a paixão é igual; intensa hoje, morna amanhã, inexistente depois. Estou falando (escrevendo) entre as mesmas duas pessoas. Hoje apaixonado(a) perdidamente por uma pessoa; amanhã perdidamente por outra, até seu amadurecimento racional. A razão irá impedir tais atitudes emocionais corriqueiras e passageiras.

Case-se por paixão e separe-se, logo a seguir, por incompatibilidade de gênios!

A paixão é intensa, mas efêmera. Ninguém ficará apaixonado a vida inteira pela mesma pessoa, repito, mas poderá amar a mesma pessoa durante toda sua vida.

Amor e Paixão são dois acontecimentos emocionais totalmente diferentes e, inclusive, incompatíveis; basta usarmos a razão para compará-los. Amor é doação; paixão é usurpação.

Quem ama doa-se ao outro; o apaixonado suga o outro.

Haverá impropérios e discussões histéricas sobre esta tese e, quando houver, tais debatedores estarão deixando de lado a razão escudando-se na emoção.

A emoção é cor de rosa, linda e brilhante, mas efêmera; a razão é cinzenta, como um céu de inverno, com chuvas e trovoadas, mas firme e perene.

E é essa dureza da razão que determina o “que fazer” para àquele que diz amar; esse “que fazer” é uma atitude imutável a ser assumida sem esforço algum; ou você ama e doa-se inteiramente ao outro; ou você não ama. Quem ama quer ver o outro feliz e não me venham com reciprocidades obrigatórias que isso é coisa da paixão.

O problema maior do amor é amar a quem não pode dar reciprocidade; em havendo tal evento a infelicidade estará completa. Não havendo tal evento, os dois completando-se com o mesmo sentimento, o amor poderá ser perene, desses que são quase inexistentes na sociedade pragmática em que vivemos.

Quem exclamar: Meu pai e minha mãe amaram-se a vida inteira! Não conheceu seus pais; a não ser que sejam um dos tais raríssimos casos.

Quem exclamar eu amarei tal pessoa a minha vida inteira; desconhece, por óbvio, o futuro.

O Amor acontece e pode ser via de duas mãos, ou não! No mundo atual quase sempre não o é, e são raríssimas as exceções; assim como são raríssimos os casos de amor para toda a vida entre dois seres desconhecidos que se encontram e que se encantam um pelo outro. Claro, o encanto se dá pelos atributos estéticos e que podem se afirmar pelo conhecimento do Ser. Se houverem afinidades que contribuam para tal conhecimento, o que demanda tempo, o evento do Amor poderá se afirmar.

Minha Mãe e meu Pai foram felizes a vida inteira! Mera observação de filho(a) que vê o Pai e a Mãe com os olhos cor de rosa.

Eu amo meu marido ou minha mulher! Meu marido, ou minha mulher, me ama! São afirmações-exclamações sem fundamento, superficiais e fruto do senso comum, pois amar exige muitíssimo mais do que as simples afirmações emocionais; exige conhecimento, comprometimento, doação incondicional, respeito, cuidado, atenção, companheirismo.

Deixemos essas armadilhas da emoção para o Senso Comum e busquemos a Razão para que nos afirme aquilo que “É” e que, por óbvio, não pode “Não Ser”.

O Amor foge das observações estéticas, elas não têm qualquer valor; diferente da Paixão, o Amor tem fulcro no Ser, em uma relação de sujeito-sujeito e não sujeito-objeto (comum nos dias atuais, sem que os pares percebam tal discrepância). O Amor não pede; ele dá, doa. O Amor não escraviza e não é escravo; quem Ama, simplesmente Ama. Nada pede; nada espera; nada cobra. É um convívio fraterno, caso exista a reciprocidade. É por isso que Amar é um evento raríssimo no mundo moderno, pelas armadilhas materiais e pelo egoísmo humano.

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