quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O QUE VOCÊ DECIDE?


“Não existe maneira de projetar o futuro esquecendo-se da ação do homem no mundo; dependerá das decisões de cada ser humano transitar sobre um céu ou sobre um inferno nessa caminhada existencial.”
(In Quase Diário – Livro-Blog internet)
Muitas vezes somos compelidos à luta pela imposição das necessidades pragmáticas terrenas disputadas pelo homem e sua maneira mercantilista, utilitária e individualista de ser-no-mundo. Abocanhamos todo o quinhão ao invés de servirmo-nos de nosso quinhão, respeitando a necessidade do outro. Conquistamos àquilo que a natureza disponibiliza para todos e não repartimos, ao contrário, buscamos conquistar também àquilo que o outro serviu-se pelo seu esforço e labor. A natureza disponibilizou-nos uma imensidão de benesses para que todos possam servir-se, mas a luta entre os homens, acirrada pela ignorância e má fé, fazem com que essa repartição não se efetive e alguns dispõem de mais e outros de menos; alguns dispõem de muito e outros de nada.

“A vida humana em seu conjunto revela as propriedades de uma tragédia... uma série de esperanças mal sucedidas, tentativas fracassadas e enganos conhecidos tardiamente. Reconhecer, observando sua vida, que todo homem está ‘in the wrong’ pode ser sua salvação.” (Arthur Schopenhauer).
A existência terrena está definida pelo comportamento humano como a luta do indivíduo contra o indivíduo e assim Thomas Hobbes passa a ter razão quando escreveu que “o homem é lobo do homem”, constatação que, passados 367 anos, se confirma. Mas antes mesmo de Hobbes, Tito Mácio Plauto, o dramaturgo romano, que viveu entre 230 a.C. - 180 d.C, já dizia em suas peças de teatro: “Homo homini lupus”. Portanto, nada mudou! Continuamos nos devorando como se fossemos animais irracionais, um canibalismo de bens terrenos e temporários, pois o homem não é somente àquilo que pensa ser; o homem é, também, transcendente à matéria. Sua expressão no mundo da existência terrena o elevará ou o colocará mais ainda na sarjeta da ignorância.

Não são poucas as informações da natureza para o homem e em várias fases de nossa existência têm-se comprovado que àquilo que “vemos” se opõe àquilo que a intuição nos diz; se atentássemos para a intuição heurística muitos de nossos comportamentos no mundo em sociedade mudaria de forma radical; ou seja voltando às raízes.

A intuição heurística aponta-nos os caminhos, pois a heurística é uma arte para descobrir-se, inventar-se e resolver problemas de ordem factual, mediante a experiência, própria ou observada. Quando o problema passa a ser complexo, incompleto e com características de difícil solução a heurística aponta-nos o modo de proceder; é um processo inconsciente e muitas vezes nem nos damos conta de que o estamos utilizando.

A verdade é aquilo que vejo ou aquilo que diz minha intuição?”
(In Quase Diário – Livro-Blog Internet)
Mesmo com todos os meios existentes no próprio pensamento humano para que ele possa desenvolver sua existência terrena de forma plena, há também, na sua gênese, um comportamento diametralmente oposto àquele que nos tornaria um homem de bem com o próprio homem: Sua ação no mundo! Agimos em desconformidade com a Verdade e cremos, muitas vezes de forma ideológica, outras vezes de forma “religiosa” e na maioria das vezes de forma individualista e por conta e risco de cada um, de que nossa ação no mundo é forma única de preservar-se e que o outro é apenas um objeto e não sujeito, como eu; o outro é tratado como coisa e não observamos o princípio da “alteritas”, partindo do pressuposto básico: Todo o ser humano social interage e interdepende do outro. Nosso comportamento e ação no mundo é “real” e está totalmente em desacordo com as teorias que nós mesmos cansamos de escrever. Muitas vezes minha ação está em desacordo com minha intuição e discurso teórico; a prática em desacordo com a teoria. Não se tem aplicado no mundo social uma ação prática que parta da teoria; o que se projeta na história tem sido uma prática sem plano de ação; sem roteiro e a vida passa a ser fruto do acaso; o homem caminha no mundo sem antever coisa alguma à frente desse caminhar. Quando surge um obstáculo tropeça, sem que tenha previsto tal “pedra” em seu caminho. A existência de cada um não tem contida em si um plano, uma meta; não existe, individualmente ou em grupos sociais, o processo de métodos e técnicas para agir-se no mundo. É fácil esta constatação, basta verificar-se o abandono do outro pelos próprios grupos oficiais de cada estado; seja o estado socialista ou o estado capitalista; apesar das teorias.

Assim é que, além das constatações de Plauto e Hobbes, o homem vive seu próprio abandono; o homem abandonou a si próprio quando passou a cuidar somente da existência terrena; somente do seu corpo, abandonando o outro; abandonando a própria alma.
“Por que você está assim tão triste,
Ó minha Alma?
Por que está assim tão perturbada
Dentro de mim?”
(Salmos 42:11)
A face má do egoísmo humano, do indivíduo centrado somente no pragmatismo do seu corpo, na acumulação de bens materiais para si, somente, não observando as necessidades materiais de todos os demais seres e as necessidades espirituais de todo o ser humano, fizeram com que o homem esquecesse da sua dualidade, esquecesse da sua alma; ou mesmo que a possui por essência.

Partindo do existencialismo de Sartre podemos observar que suas palavras escritas expressaram tal dualidade, mesmo que opondo-se à primazia da essência sobre a existência, mas não anulando essa dualidade. Escreveu Jean Paul Sartre que: A Existência precede a Essência; concordando que o homem existe e que se faz no mundo. Assim, podemos discorrer sobre essa caminhada existencial, observando que o homem enquanto se faz no mundo, faz o próprio mundo, mas invertendo a assertiva de Sartre sobre a primazia da existência e afirmando que a essência precede a existência, pois o homem mesmo se fazendo e fazendo o mundo tem em si a Essência de Ser, mesmo antes de existir.

O autor português Francisco Limpo de Faria Queiroz, admite que:
“O termo essência designa o ser, a consistência ou qüididade de um ente, considerado independentemente da sua existência. Dizer o que é uma coisa é declarar a sua essência.”

“Na filosofia grega até Platão, a essência - eidos - tem a conotação peculiar daquilo que, numa coisa, é permanente e central, em oposição ao transitório e acidental. Para Platão, a verdadeira realidade está na essência, na forma pura da coisa, subtraída à tela aparente da existência.”

Platão, sem ter conhecido Sartre, já antecipava que a Essência precede a Existência, pois existir é ter a Essência do Existir; não seria possível Existir sem ter tal Essência: A Essência do Existir! Sartre, ao contrário, defende a tese de que a Existência precede a Essência, sem negar a Essência, ao contrário, admitindo-a; de certa forma uma aproximação do Existencialismo Néo-Socrático de Gabriel Marcel.

“É hora de se interrogar:
Se vamos salvar a alma, o corpo vai sofrer;
Se vamos salvar o corpo, a alma vai penar.”
(In Quase Diário – Livro-Blog Internet)
O que você decide?

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