terça-feira, 15 de dezembro de 2020

POR ONDE ANDAM AS MARIAS?

Pois a conversa girava em torno de assuntos variados, afinal quando antigos colegas de farda se encontram têm muita coisa a contar um ao outro. E foi assim, naquela noite de recordações que nos reunimos com mais outros antigos companheiros de caserna pelo whatsapp e relembramos dos vivos e dos mortos.

Noite adentro, varando a madrugda, enganando o sono com histórias e exercitando os neurônios com o esforço mental, desfilavam nomes que formavam imagens e criavam por um instante qualquer o mundo que foi real, fantasiado agora por meras lembranças que se aformoseavam a cada lápso da memória.

Quem foi o melhor atirador; qual a marcha mais cansativa; o Comandante mais rigoroso e, como não poderia faltar em conversas de soldados, as histórias das conquistas amorosas ou eventuais de jovens que despertavam para a vida sem saber o que lhe reservaria a caminhada existencial.

O avanço tecnológico tem possibilitado encurtar distâncias, facilitar conversas e reunir pessoas de vários lugares; as redes sociais promovem reencontros inimagináveis e amizades outras que nunca seriam possíveis e tampouco pensadas em um passado bem recente. Essa facilidade de comunicação reune, agrega e torna o inimaginável algo possível e assim o sonho se torna realidade ou o sonho fica mais fantasiado ainda. Ao despertarmos de tal sonho nos damos conta de que andamos aqui e acolá, conquistamos, perdemos, ganhamos, aprendemos, desenvolvemos o conhecimento e desbravamos o desconhecido em pouco mais de 50 anos, nos damos conta também de que tudo é nada e que o tempo é tão efêmero que nos liga com a vida por um ínfimo fio.

Mas, por onde andam as Marias?

É verdade!!!

Aos 18 anos a tostesterona é mais intensa que um calor de 40 graus e não raro também que soldados no alvorecer da vida pensam tanto quanto uma ameba; são raros os Nerds, a maioria dos recrutas são cabeças de vento e viveram seu tempo na ilusão do descompromisso e da casualidade.

Os chamados amores do passado pulverizaram-se na história de cada um; a regra é o esquecimento. Ninguém mais lembra desse ou daquele namoro na esquina, numa calçada distante ou resultante de um encontro casual; quem sabe um cinema e uma caminhada na Rua da Praia. Tais acontecimentos são hoje quimeras e para entender-se àquele tempo somente o vivendo, coisa que, sabe-se, é tão possível como teletransportar-se. O passado está morto! Mas nós, naquele encontro virtual, teimosamente o ressuscitamos em um esforço mental para reproduzir historietas eivadas de saudades. 

Mas por onde andam as marias que nos fizeram homens?

A existência humana é uma caminhada em que os rumos são definidos por atalhos ao longo do caminho; aqui e acolá nos deparamos com bifurcações que nos levam a outros recantos que poderão ser uma morada mais firme. As marias seguiram seus rumos e certamente tambem encontraram moradas firmes; o que resta são lembranças e talvez saudades de um tempo existencial que morre a cada esquina, a cada contorno que fazemos e a cada passo que damos. 

Não é possível meia volta volver; a única opção é marchar; e marchar em frente!

(Este texto é dedicado aos colegas de Farda do antigo 18º Regimento de Infantaria: Sgt. Selmo; Sgt. Dionísio; Cabos Adélio, Gandon, Dario, Mativi. In memoriam ao Cabo Brandolf e ao Capitão Martins, que foi recruta com todos os demais no ano de 1967/68.)

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