quarta-feira, 2 de outubro de 2013

DITADURA DO CONCEITO

Falar em ditadura e em conceito reserva a quem escreve o ônus da objetividade e da imparcialidade; coisa bastante difícil no caso deste artigo, onde me proponho a escrever justamente sobre uma questão subjetiva, a beleza; e seus conceitos, que também são subjetivos.

Caminhando distraidamente pelos centros da moda de São Paulo deparei-me, na tarde de ontem, com a manchete estampada em uma capa de revista: “Linda e magra”! A modelo realmente é bonita, tem coisas que é impossível negar; que seu conteúdo corporal não tinha recheios adequados a necessidade de compor uma estrutura sustentada por ossos, num equilíbrio que só a existência explica, também não tinha qualquer sombra de dúvidas. Mas, minha atenção foi ao mesmo tempo despertada pelo olhar e pela maldita palavra que os filósofos colocam no início da fila das suas indagações: “Por quê?”.

Por que linda e magra?

De que neurônio saiu à ideia de que para ser linda tem que ser magra?

Respirei fundo e deixei a indignação de lado; acalmei meus pensamentos e, imediatamente, peguei a caneta para escrever o título que esta ostentando este artigo: “Ditadura do Conceito”. Sim, porque é uma ditadura impor conceitos de beleza quando a própria beleza é um conceito e como conceito é subjetivo. Por que uma pessoa tem que ser magra para ser bela?

São esses conceitos que criam e multiplicam estereótipos bizarros, impostos à população como regra, através dos meios de comunicação e da mídia bem torneada. É também aformoseada por um bando efusivo de marqueteiros plantonistas que moldam o nada para que se torne alguma coisa.

É vero! Um nada se torna alguma coisa pelas mãos hábeis de quem conhece as fraquezas humanas.

Essa fraqueza é que torna uma maioria refém de uma minoria; acreditar num conceito imposto e deixar isso alastrar-se em sua vida é viver sob a égide de uma ditadura conceitual que servirá apenas para escravizar àqueles que nem timidamente se dão ao trabalho de exigir da razão uma resposta às ditaduras que lhes sufocam.

Linda e magra!

Por que não linda e gorda?

O conceito de magra e gorda é objetivo, qualquer um sabe quanto pesa, basta acessar uma balança. Entretanto 50 quilos na balança não significa beleza, é apenas o peso da massa corporal. Seu corpo pode ser belíssimo, mesmo com 70 ou 80 quilos; por que deveria pesar menos para ser belo?

Na verdade não é o peso que torna um corpo belo ou não; é o conceito de belo, imposto por uma ditadura conceitual que lhes empurram goela abaixo a ficção criada a partir de interesses comerciais associados a padrões criados por meia dúzia de espertalhões da moda.

O belo é subjetivo, assim como o feio. Dizer que a beleza esta associada aos conceitos e padrões criados através de uma ditadura da moda é querer tornar o ser humano escravo do conceito.

Todo ser humano é belo, assim como belos são os animais e toda a natureza. A beleza, mesmo que seja um conceito subjetivo, é expressa através da sua manifestação objetiva. Belo é aquilo que meus olhos se alegram em ver. E eu me alegro em ver um ser humano se manifestando existencialmente; eu me alegro em ver um animal como resultado da criação existencial; eu me alegro em poder olhar toda a natureza que me recebe em seus braços.

A beleza é mais espiritual do que corporal; o corpo apenas manifesta o interior e sua grandeza esta em possibilitar essa manifestação.

Se fosse para discutir subjetividades e padrões de beleza corporal, embora isso seja insignificante quando se tem a frente de si um ser humano, eu diria que existe beleza também nas pessoas que são taxadas de gordas pela ditadura do conceito.

Nulla ratione melius vivet!

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