Muitas pessoas utilizam a palavra
Ética querendo na verdade referir-se a questão Moral; moral é uma coisa, ética
é outra. A ética, em contraposição as questões morais, não muda com o tempo. Se
uma coisa é moralmente condenável num período da história, em outro pode não o
ser. Isso não acontece com a Ética. Ser ético nos tempos de hoje vai exigir as
mesmas condições que o foram no tempo de Sócrates.
Alguns autores convêm citar, para
ancorarmos nosso raciocínio: Baruch de Spinoza, o teólogo judeu; Aristóteles, o
estagirita grego; Sócrates, o filósofo do discurso interrogativo e que nada
escreveu, deixando essa tarefa para seus discípulos, entre os quais Platão, que
também abordou com maestria o tema, e tantos outros.
Nossa proposta é abordar algumas
questões de ordem ética e não esgotar o tema. Este estudo não é completo,
apenas abordagens sucintas, mas nem por isso perde sua importância.
Para ser ético, de modo geral,
“inicie mantendo-se como um modelo de civilidade e eficiência; suas mãos não
devem se sujar com erros e atos desagradáveis. Procure ser impecável em seu
comportamento tendo sempre presente que o outro é você” (1).
Esta citação demonstra de modo
radical (radical de raiz) que cada ser humano [i] deve se colocar no lugar do
outro, para entender melhor a postura ética. Quando destaca: “o outro é você”,
demonstra a necessidade da alteridade entre as pessoas, pois todos são iguais
enquanto seres-humanos. A ética, portanto, dirige a ação do indivíduo para o
bem; o contrário seria a maldade, e a maldade é resultado da ignorância, diz
Sócrates e Platão. Porém, não basta apenas o conhecimento sobre o dever para
que sejamos inclinados a cumpri-lo, é necessário, sim, que haja um esforço
através de nossa vontade para poder subordinar a conduta ao dever.
É crível que o homem tem um senso
moral inato e esse senso moral inato poderia levá-lo a praticar boas ações;
mas, por outro lado, não se pode negar que estas boas ações só se estabelecem
através do conhecimento de normas do dever que, assim, facilitaria o seu
cumprimento.
“A Ciência Moral mostra, com
clareza, os princípios que devem orientar nossa conduta e justifica,
racionalmente, o dever que devemos cumprir, evitando que nossa ação seja
dominada pelas reações instintivas, pelos impulsos da afetividade e pelos
sofismas da paixão” (2).
Sócrates, o grande Filósofo Grego
que pelo cumprimento das normas Éticas e devoção à sua Cidade, Atenas, preferiu
a morte ao invés da possibilidade de fuga para o exílio, deu-nos mostras
irrefutáveis da importância de mantermos uma conduta moral irrepreensível, pois
isso nos torna, além de homens do bem, um ser que postula pela reta razão. A
ciência Ética, que por alguns autores é denominada de a ciência Moral, no
contexto segue, entretanto, o mesmo vértice, uma vez que tem suas
responsabilidades no encaminhamento moral, sendo um complemento indispensável às
demais ciências e, “quem sabe se todas as ciências, sem a ciência do bem,
seriam mais nocivas do que úteis” (3).
Sócrates nos ensina que não pode
existir no comportamento do homem ação que não seja precedida por uma norma
ética e para tal devem existir os valores morais que estabelecem nossa conduta
inserida na sociedade. O progresso da inteligência e da cultura seria supérfluo
e até prejudicial, se não concorresse para melhorar o homem e encaminhá-lo à
prática do bem.
Portanto, Ética, ou moral, como
diz o Prof. Theobaldo Miranda, é o estudo da ação humana enquanto livre e
pessoal. Sua finalidade é traçar normas à vontade da sua inclinação para o bem.
É bom observar que a conduta
ética também exige a liberdade do homem e, entender que não poderia existir
liberdade sem pressupor a responsabilidade. Quando falamos em Ética, então,
estamos afirmando a liberdade e a responsabilidade humana.
Finalmente, tenhamos presente que
três condições se apresentam como necessárias para o exercício da conduta
ética: A razão, o livre arbítrio e a inclinação para o bem. A partir de então
poderemos especificar funções para o cumprimento de normas éticas, a saber, de
modo geral: A Ética no trabalho; a Ética nas questões Ecológicas; a Ética no
Direito; Ética e Tecnologia; Ética e Família e assim por diante.
Vejamos um exemplo de texto
antigo, belíssimo, em que Sófocles, em Antígona, exalta o homem e o trabalho
mesclado com a dimensão ética a que, como norma, o homem cumpre:
“Existem inúmeras coisas maravilhosas na physis, porém nenhuma é tão maravilhosa
quanto o homem”. Singrando os mares bravios, impelido pelos ventos meridianos,
ele navega. Arrasta as vagas ingentes que rugem a seu redor. Gê, a suprema
divindade que a todas supera desde a eternidade, o homem talha com suas charruas
graças à força das mulas, revolvendo e fertilizando o chão, ano após ano.
“A tribo dos pássaros ligeiros, o
homem a captura. Ele a domina. As hordas de animais selvagens e de visitantes
das águas do mar, o homem prende nas malhas de suas redes. Amanhã, igualmente,
tanto o animal do campo... o dócil cavalo... como o touro selvagem das
campinas” (4).
Obvio que Sófocles está a se
referir ao trabalho, em sua época; o trabalho do homem; o trabalho que
dignifica e enobrece; o trabalho que deve ser exercido com retidão.
Quando o homem penetra a natureza
e faz dela sua serva colocando-a a seu serviço, desvendando seus segredos e a
subjugando, o faz para manter-se vivo e hígido, com vigor para suplantar as
adversidades inerentes à vida; entretanto essa dominação da natureza pelo homem
só terá valor se a inteligência humana tiver iluminação suficiente para
observar que o veio da vida só poderá permanecer existindo conformidade entre o
uso ético da natureza e a sua preservação, perpetuando assim a própria existência
humana.
Se o homem agir iluminado pela
sua inteligência certamente saberá que a profissão exige-lhe saber o
significado da sua vocação e a consciência que somos diferentes; que na unidade
existe a diversidade, portanto, cada ser labora conforme a sua aptidão. Sejamos
fieis a nossa vocação e saibamos que cada homem tem a sua finalidade no mundo e
a sua parcela de responsabilidade na sociedade; todos fazem parte de um mosaico
que necessita da totalidade da participação, uníssona, para existir.
Assim, sabendo que somos apenas
parcelas de um todo, o outro sempre nos será necessário e, esse outro, será
tanto o ser humano quanto a natureza. Não poder dispensar essa parte do todo
significa que a ação do homem sobre a natureza e a necessidade do outro se
estabelecem com regras éticas rígidas e necessárias.
Dar-se conta de que a vocação de
cada homem é de suma importância e necessária a todos os demais, faz-nos
acreditar no valor do trabalho individual e da importância em gostar de tudo
aquilo que se faz; da mesma forma ver e saber que aquilo que o outro faz também
é de suma importância para nós; somente assim poderemos coexistir.
A importância de todas as
profissões e sua relação com cada um de nós demonstra a necessidade do trabalho
de todos, irmanados e direcionados ao bem. Cada homem é de suma importância ao
mundo e cada homem é de suma importância para cada um de nós com o seu trabalho
e o seu conhecimento. Entender isso significa compreender a necessidade de dar
valor ao trabalho de todos e, assim, a dimensão ética estará presente nessa
consideração.
[i] (1) Prof. Irapuan Teixeira, in Curso de PG em Direito na
FADOM-MG.
(2) Prof. Theobaldo Miranda, in Curso de Filosofia no IEEG.
(3) Sócrates (469-399 a.C.) citado por Platão (427-347
a.C.).
(4) Sófocles (496-406 a.C.) em Antígona.
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