terça-feira, 30 de janeiro de 2018

LURDINHA, MEU AMOR (um papo de soldado)

Ela foi muito conhecida como Lurdinha, era saltitante e bela; seu auge foi nos idos da década de 60. Esguia, magrela, tinha a capacidade de se alargar quando estava nos braços dos soldados; mas adorava um sargento.

Ela era assim, aninhava-se junto ao peito de quem acariciava suas costas e esticava-se quando era colocada debaixo do braço daqueles que a amavam.

Nasceu próxima aos nazistas, numa guerra em que a Dinamarca estava envolvida; tinha uma irmã bem mais velha, a Madsen.


Quando Adolf invadiu o reino da Danmark, no início da segunda Guerra Mundial, por uma questão de acaso lá estava um brasileiro de nome Plínio Paes Barreto Cardoso; mais tarde ele seria o pai da Lurdinha.

Os dinamarqueses receberam em missão técnica o brasileiro Plínio Paes e confiaram a ele alguns projetos, mais especificamente o de armas leves; em desenvolvimento estava o projeto de uma submetralhadora e que não teve continuidade em função da guerra. Antes de que Adolf colocasse mãos nos projetos de Plínio Paes ele voltou ao Brasil, pois o reino caíra em mãos dos alemães; com ele vieram todos os projetos em desenvolvimento, principalmente o da submetralhadora.

A irmã mais velha da Lurdinha era a Madsen, uma linda dinamarquesa que foi deixada a mercê dos alemães.

Salvara-se Lurdinha, pela agilidade daquele brasileiro, um militar que na época tinha um posto no oficialato; não lembro se era 1º ou 2º tenente; ou mesmo se já era um capitão; sei, sim, que foi como General R1 que implantou no Brasil o projeto INA, no ano de 1949, coincidentemente no mesmo ano que minha mãe estava grávida deste que vos escreve; eu fui nascer no final daquele ano, bem próximo a data de nascimento da Lurdinha.

Madsen M-1946
Plínio Paes trouxe da Dinamarca todos os projetos de uma submetralhadora leve, que lhes foi cedido, por deferência e gratidão, pela Dansk Industri Syndikat.

Que projetos foram esses? O da submetralhadora Madsen modelo 1946, que daria suporte a criação da submetralhadora conhecida mais tarde como INA, mesmo nome da empresa que o General fundaria no Brasil: A "Indústria Nacional de Armas", no bairro de Utinga, na cidade de Santo André, Estado de São Paulo.

Adotada pelo Exército Brasileiro e também pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul, assim como, mais tarde, pelas Polícias Militares de todo o Pais, a submetralhadora INA tinha um calibre diferente da sua irmã dinamarquesa, a Madsen 1946.

A diferença principal da original dinamarquesa foi a mudança do calibre, de 9 mm Luger para o 45 ACP.

INA, a Lurdinha
A INA, ou como gostávamos de chama-la, a Lurdinha, tinha uma cadência de 600 tiros por minuto; como possuía baixa cadência, àqueles que tinham mais intimidade com a "moça" podiam disparar rajadas curtas. Mas nada de disparar com uma só mão; a Lurdinha não era pistola e nem revolver. Um dispositivo junto ao retém do carregador obrigatoriamente tinha que ser pressionado com a outra mão para que ele começasse a festa. Seu peso 3 kg e 400 gr; comprimento de 74,9 mm e um narizinho empinado (cano) de 214 mm.

A Lurdinha teve a péssima fama de engasgar, principalmente nas rajadas intermitentes e nas mãos dos policiais; a culpa nunca foi da Lurdinha, tampouco de seus "amantes", que a manejavam com perícia. O problema sempre foi da munição .45 ACP, de fabricação nacional e de péssima qualidade, com cartuchos muito velhos e que foram entregues aos policiais, piorando mais ainda a fama de "negaciar" (negar fogo).

Mas quem, como eu, não amou a Lurdinha?

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